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  • Guilherme Purvin

Paraíso em Príncipe: Praia da Banana

Atualizado: 11 de jan.

= Guilherme Purvin =


Vídeo: (c) Ana Bonchristiano.


Aproveito esta quarta-feira de chuva, em que não foi possível realizar nenhum passeio, para falar um pouco da Roça Belo Monte, onde estamos hospedados. Esse termo, "roça", já o conhecia da leitura do livro "Equador", de Miguel de Souza Tavares. Belo Monte é uma das menores roças da ilha e, hoje, já não produz açúcar, cacau ou café, servindo apenas como hotel. Suas principais atrações são a Praia da Banana e o pequeno museu "Forever Príncipe", de onde colhi esta informação:


Ao longo do século XIX, os múltiplos terrenos do governo português, de familias locais e de colonos europeus foram agrupados em grandes propriedades-as chamadas 'roças'. Estas funcionavam como unidades socioeconómicas e politicas praticamente independentes dentro da colónia. A ilha do Príncipe em particular foi dividida em cinco grandes propriedades: a Roça Sundy, a Roça de Porto Real, a Roça Infante D. Henriques, a Roça Bela Vista e a Roça Paciência. As roças maiores tinham o seu próprio hospital, igreja, creche, carpintaria, oficina e as roças que se encontravam perto da praia tinham um pequeno porto de embarque. As grandes roças funcionavam com completa autonomia, os donos das plantações estabeleciam as regras para todos os que trabalhavam e viviam nas suas plantações, tendo inclusive certos privilégios que lhes permitiam evitar impostos alfandegarios. O governo português encontrava-se longe e não era estritamente obedecido a nível local, o que dava aos donos das roças um grande poder político. Portugal proclamou a abolição da escravatura em todo o Império em 1869, contudo o seu termo definitivo verificou-se somente em 1878. Os novos trabalhadores 'contratados' foram trazidos das colónias portuguesas, principalmente de Cabo Verde, Angola e Moçambique. No entanto, esta mudança de estatuto de escravos para trabalhadores contratados não mudou, na essência, as suas condições de vida. A Roça Belo Monte era uma das roças mais pequenas do

Principe.


Foto: (c) Guilherme Purvin

Roça Belo Monte - Escadaria para o terraço


 

Foto: (c) Guilherme Purvin

Rancho Belo Monte - Belvedere ao final da escadaria


 


Foto: (c) Guilherme Purvin

Foto: (c) Guilherme Purvin

Depois da praia, vem a calhar um mergulho na piscina do hotel.


 

Foto: (c) Guilherme Purvin

São-Tomenses dizem que a jaca veio do Brasil. Brasileiros dizem que veio de São Tomé. Na verdade, os portugueses a trouxeram da Índia para as suas colônias. Na foto, uma jaqueira repleta de jacas.

 

A grande atração da Roça Belo Monte é a Praia da Banana. De camionete, chega-se a ela em menos de vinte minutos. Há dois dias, na segunda-feira, embarcamos com um triste quarteto de mulheres que renegavam a própria nacionalidade. Perguntei se eram russas. Imediatamente negaram, disseram que eram de Chicago. Ah, ok! É que eu pensei que estivessem conversando em russo ou, talvez, em ucraniano... Expliquei que havia estudado Russo há muitos anos, mas quase não me lembrava de nada. Uma delas, assustada, perguntou-me se eu entendia o que falavam. Respondi em russo: "Não, eu não entendo" (iá ni panimáiu). A mais afetada disse que era da Letônia. Eu comentei que minha avó era de Riga e meu pai, russo. A mulher olhou para a minha pele, duvidando. Expliquei que meu pai era de Vladivostock. E ela: "Ah, ok, Vladivostock is really very Russian!". A conversa parou por aí. Elas queriam ser estadunidenses de todo jeito, muito embora se comunicassem em russo. O resto daquela segunda-feira foi dedicado exclusivamente à morgação na praia. As águas são transparentes e a temperatura é deliciosa. O difícil era sair da água e retornar às cadeiras reclináveis.


Foto: (c) Guilherme Purvin

Foto: (c) Guilherme Purvin


Foto: (c) Guilherme Purvin

Juridicamente, as praias são públicas. Na prática, só chega na Praia da Banana quem a administração do hotel consente: seus hóspedes e, eventualmente, turistas que queiram almoçar no quiosque montado no local. Cheguei a ler mensagens em sites da internet reclamando dessas restrições.


Foto: (c) Guilherme Purvin

No almoço, conversamos com a Sandra (que está grávida da Verônica) e com uma família de portugueses. Um deles era casado com uma paranaense de Guarapuava (PR). Expliquei que minha família era de Lisboa e meu avô, de Figueira da Foz. Eles disseram que trabalhavam no setor de restaurantes praianos.


O único momento dissonante foi quando um dos veranistas resolveu ligar seu drone, destruindo o cenário idílico do paraíso perdido e tornando real o antropoceno: drones convivendo com aves são-tomenses.


Foto: (c) Guilherme Purvin

Na canção do Premê, o urubu se apaixonou pela asa-delta. Aqui na Praia da Banana, o pretendente a pássaro é um drone. Lamentável prenúncio de eventual futuro de turismo predatório.

 

Lá pelas 15h30, com a praia novamente vazia, chamamos o transfer e retornamos para o hotel. No fim da tarde, o por-do-sol visto do terraço.


Foto: (c) Guilherme Purvin.


Foto: (c) Guilherme Purvin.

Príncipe, 8/10-1-2024

= Guilherme Purvin =

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