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  • Guilherme Purvin

Nulidade absoluta

Assim que soube que o soalho estava repleto de cupins e formigas, imediatamente acionei o Ministério Público. No dia seguinte, o promotor havia dado por encerrado o conserto e, imbuido da certeza que nos trazem os atos jurídicos perfeitos, os direitos adquiridos e as coisas julgadas, resolvi promover uma festinha particular no meu quarto. Comprei dois litros de tequila e aguardei a chegada de meus amigos. São poucos, apenas dois: os irmãos Ernesto e Arminda. Colocamos um disco do Living Colour na vitrola e começamos a dançar como loucos. Arminda tirou toda a roupa e me chamou para inspecionar o excelente serviço de recuperação dos tacos. Qual não foi a nossa surpresa quando descobrimos que o ato jurídico perfeito estava eivado de nulidade absoluta, decorrente da presença de espesso volume de ovos de cupins escondidos em tacos aparentemente sadios. Não tive dúvida e convoquei o promotor. No entanto, apontando um revólver em minha direção, ele disse:

— Não se meta a engraçadinho com o parquet. Você não imagina o que posso fazer quando alguém reclama da qualidade de minhas reformas de soalho.

Claro que eu imaginava. Deixamos isso pra lá. Afinal, cupim também faz parte da natureza e Jesus já dizia para não acumularmos bens na Terra. Aproveitamos para também desligar a vitrolinha, guardar o restante da tequila no armário e praticar sexo tântrico.

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