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Guilherme Purvin

Visitando as antigas roças de Príncipe

Guilherme Purvin


As famosas roças (plantations) de São Tomé e Príncipe, em sua maioria, são hoje apenas ruínas ou, na melhor das hipóteses, transformaram-se em hotéis requintados. Um exemplo de roça totalmente abandonada nos foi apresentado no dia 11 de janeiro.



Almoçamos uma feijoada de peixe num restaurante chamado "Tia Zinha", na cidade de Santo Antônio (capital de Príncipe). As crianças de até três ou quatro anos sempre nos rodeiam para pedir colo. Enquanto esperávamos pelo almoço, esse menininho se alojou no colo da Ana Cristina e acabou dormindo. Isso se repetiu em outros lugares, inclusive na Ilha de São Tomé.

Seguimos por uma estrada que passava por um povoado chamado Portinho e, depois, pela Praia do Abade - uma praia bastante popular onde as mulheres lavavam as roupas nos riachos - e por uma aldeia muito pobre de pescadores.

 

Os animais da ilha são basicamente cães, cabritos e porcos. Todos passeiam livremente pelas ruas e estradas.

 

30 minutos de pitstop para troca de pneus, com a ajuda espontânea de um menino que havia literalmente surgido do meio do mato.

 


Ao final do trajeto, chegamos a este lugar, a Roça do Abade e encontreamos meninas e meninos jogavam bola no gramado. O lugar é tão ermo que não há no Google Maps sequer indicação do nome da praia e do povoado. Após muita pesquisa, descobri que a roça ainda está em atividade, trabalhando com a produção suína e de frangos, o que explica o cenário.


Ao lado da casa grande, havia também um conjunto de casas de madeira onde algumas mulheres trabalhavam debulhando milho, rodeadas por galinhas que ciscavam o chão.

 

Roça do Sundy

No extremo oposto está a Roça do Sundy, a mais luxuosa de Príncipe, que vem promovendo o realojamento do povo trabalhador que vive nela para um conjunto habitacional chamado "Terra Prometida" e reformando as instalações para a ampliação do conjunto hoteleiro.



Neste grande quintal que é rodeado pela casa grande e pelos alojamentos, os trabalhadores se apresentavam ao nascer do sol para o trabalho e ao final da jornada, quando o sol se punha. As cenas são descritas no romance "Equador", de Miguel de Souza Tavares.

 

A Roça Sundy conta com um museu. A peça acima é um pesadíssimo rolo utilizado para a preparação dos roçados. Era necessária uma junta com pelo menos seis bois para conseguir rolar esse equipamento pelo terreno. O complexo hoteleiro pertence ao milionário sul-africano Mark Shuttleworth, conhecido como o "astronauta", por ter sido o primeiro africano a viajar para o espaço. Desde a década de 1990, o Banco Mundial e o FMI condicionaram a concessão de empréstimos a São Tomé e Príncipe à privatização de suas roças a estrangeiros.


Sundy conta também com uma das melhores e mais bonitas praias da Ilha de Príncipe. Embora a Praia da Banana possa ser visualmente mais bonita, a do Sundy é muito mais agradável para caminhar e nadar, pois não é uma praia de tombo.


 

A curiosidade mais extravagante é a informação de que foi exatamente na Roça do Sundy que a Teoria da Relatividade foi confirmada: em 1919, o astrônomo inglês Arthur Eddington e seu assistente Edwin Cottingham fizeram uma expedição à Ilha do Príncipe, financiada pela Real Sociedade de Astronomia. A Roça Sundy, uma fazenda colonial, foi escolhida como local para se efetuar o registro fotográfico do eclipse total do sol às 14h17m do dia 29 de maio daquele ano, comprovando, por estudos comparativos, que era correta a teoria de Albert Einstein. Na mesma data, essas medições também estavam sendo feitas em Sobral, no Ceará - o que torna, de certa forma, as duas localidades, Príncipe e Sobral, parceiras em matéria de Astrofísica!




São Tomé, 15/1/2024

Guilherme Purvin




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