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  • Guilherme Purvin

Ruínas de herança portuguesa

 - Guilherme Purvin -

O que nos torna tão próximos de um país como São Tomé e Príncipe? Certamente o clima, a ecologia, nos lembram bastante a Mata Atlântica, com sua profusão de árvores, cipós, flores e frutos. Num relance de olhos vemos cachos de bananas pendendo das bananeiras e jacas agarradas aos troncos. Ao contrário do que nos foi alerdeado, não sentimos a tão temida umidade do ar. Um morador de Belém do Pará certamente acharia a Ilha de Príncipe um lugar até que bem seco. Assim, a um brasileiro médio, que vive nas proximidades da Mata Atlântica ou da Floresta Amazônica, por certo a natureza lhe será bastante familiar.


Há, ademais, a herança portuguesa. Ela está presente nas transformações da natureza. Os portugueses não foram muito criativos no seu processo de exploração econômica das colônias. Basearam-se na cultura da pólvora e da chibata, caçando seres humanos e os submetendo a trabalho escravo, para plantio de cacau, cana-de-açúcar e café. Ou seja, exatamente o mesmo que fizeram no Brasil.


Como entreposto de tráfico negreiro para o Brasil, São Tomé e Príncipe foram povoados pelas mesmas etnias que chegaram à Bahia e ao Rio de Janeiro, sobretudo famílias vindas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. O sotaque do são-tomense é muito mais doce e compreensível ao brasileiro do que o duro sotaque português, tão pobre em vogais. É muito agradável ouvir um são-tomense, que de diferente tem sobretudo a pronúncia do /r/, afrancesada. Acostumados ao sotaque dos brasileiros, por conta das novelas da Globo e da Record-Igreja Universal, bem como das versões de filmes de TV e do que há de pior na música brasileira (de Roberto Carlos para baixo), os são-tomenses sabem nos imitar tão bem quanto imitam também um lisboeta. Assim, usam expressões nossas como "valeu", misturadas com expressões lusitanas como "bué" ou "fixe".


Algumas pessoas falam também línguas locais. Em Príncipe, por exemplo, há quem converse em lun'gwiye, também conhecido como principense ("língua da ilha") ou em crioulo caboverdiano. E, em São Tomé, em forro ou angolar. De qualquer forma, não encontramos ninguém que não soubesse também falar em português.


As fotos seguintes falam por si a respeito da herança religiosa portuguesa. Trata-se de uma igreja católica localizada numa antiga roça de Príncipe. Depois de destruído seu telhado, caíram as sementes das árvores e ergueu-se um belo cenário para algum filme de Werner Herzog.


Foto: (c) Guilherme Purvin
Foto: (c) Guilherme Purvin

Podemos imaginar que belo efeito místico poderia provocar a colocação neste nicho de uma estátua de Santo Antônio de Lisboa ou, quem sabe, Nossa Senhora de Fátima... Restaram as ruínas.

Foto: (c) Guilherme Purvin

A par da persistência do escravismo disfarçado de contrato de trabalho, tão bem caracterizado no romance "Equador", de Miguel de Souza Tavares, ou das ruínas da religião Católica Apostólica Romana, que vem cedendo espaço à Igreja Maná e às neopentecostais, o povo de São Tomé e Príncipe herdou dos 500 anos de dominação portuguesa uma política na área da Saúde que se acha representada pelas fotos a seguir.


Foto: (c) Guilherme Purvin

Foto: (c) Guilherme Purvin

Foto: (c) Guilherme Purvin

Recomendo, assim, que em sua visita à Ilha de Príncipe, você inclua também estes passeios pelos destroços que Portugal deixou ao povo de STP, juntamente com a nossa língua comum, que nos torna parceiros na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - a CPLP.


ST&P, 13/1/2024

Guilherme Purvin



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