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Briga entre intelectuais termina na delegacia

Guilherme Purvin

Compilação da reportagem e dos artigos: Guilherme Purvin


Do debate acadêmico às agressões físicas: briga entre intelectuais termina na delegacia

Por Amanda T. Green – New York Chronicle

Nova York, 25 de outubro de 2024 – A rivalidade entre os acadêmicos Jonathan P. Rawlings e Eleanor V. Marbury ultrapassou as páginas das revistas científicas e ganhou os holofotes da polícia nova-iorquina na manhã desta quinta-feira. Os dois protagonistas de uma polêmica intelectual envolvendo carne de picanha, a banda Talking Heads e o filósofo Karl Popper, foram flagrados em Central Park trocando agressões físicas após uma discussão acalorada.

Testemunhas relataram que Rawlings e Marbury se encontraram por acaso próximo ao Bethesda Terrace e iniciaram uma discussão verbal que rapidamente escalou para empurrões e socos. “Eles estavam gritando sobre picanha e Taylor Swift como se fosse a coisa mais importante do mundo”, disse uma senhora que passeava com seu cachorro.

Agentes da 22ª Delegacia de Polícia, localizada na 86th Street, foram acionados por frequentadores do parque. Ao chegarem ao local, encontraram ambos envolvidos em uma briga corporal. Segundo o oficial responsável, os acadêmicos estavam “visivelmente exaltados” e resistiram brevemente à intervenção policial.

Os dois foram conduzidos à delegacia e autuados em flagrante por conduta desordeira e agressão leve. Em declarações iniciais, Rawlings afirmou que Marbury o provocou “de maneira insuportável”, enquanto Marbury alegou que Rawlings teria iniciado as ofensas ao desdenhar publicamente de sua crítica.

A controvérsia intelectual que gerou o embate começou com um artigo publicado por Rawlings na revista Cultural Horizons Quarterly, ao qual Marbury respondeu na Journal of Critical Cultural Disputes. O episódio, que antes era restrito ao meio acadêmico, agora atrai atenção pública pelas suas proporções inusitadas.

Os dois foram liberados após pagarem fiança e aguardam julgamento marcado para o próximo mês. Fontes próximas à investigação indicam que a defesa de ambos está considerando alegar "diferenças intelectuais irreconciliáveis" como atenuante para a conduta.

Enquanto isso, o caso já está sendo apelidado pela imprensa como “A Guerra da Picanha”. Resta saber se os dois acadêmicos conseguirão resolver suas diferenças ou se novos capítulos deste embate inusitado surgirão – talvez, novamente, no palco do Central Park.


Para entender o caso


Há exatamente um ano, Jonathan P. Rawlings (PhD em Filosofia da Cultura Contemporânea pela University of Chicago, com especialização em Filosofia da Ciência e Estudos Culturais Comparados) escreveu para a Cultural Horizons Quarterly um artigo bastante polêmico que agitou a comunidade acadêmica.


Steak and Sound: Picanha and Talking Heads Through Popperian Eyes

  • Jonathan P. Rawlings

A análise das relações entre a carne de picanha e a banda Talking Heads, com exclusão do filé mignon e da banda The B-52s, sob a ótica de Karl Popper, exige um raciocínio fundamentado no princípio de falsificabilidade e na natureza dinâmica do conhecimento.

A picanha distingue-se do filé mignon por sua complexidade sensorial. Enquanto o filé mignon é valorizado por sua maciez, é justamente sua falta de gordura que limita seu sabor e singularidade. A picanha, com sua capa de gordura característica, desafia e recompensa o paladar de forma mais intensa. Sob a perspectiva de Popper, a picanha representa uma hipótese mais rica para a gastronomia: ela incorpora variabilidade e desafio, sendo mais suscetível à crítica e evolução culinária. Seu preparo é um processo aberto, no qual a adaptação aos gostos regionais e culturais reflete a pluralidade de experiências humanas. O filé mignon, por outro lado, é um produto que se apresenta como uma escolha quase segura, com poucas variações ou possibilidades de experimentação.

A banda Talking Heads pode ser comparada à picanha, pois sua trajetória musical está repleta de experimentos e reinvenções. Assim como a picanha explora texturas e sabores diversos, a banda explora a fusão de estilos musicais — do punk ao funk, do art rock ao afrobeat. A relação se estabelece porque ambas provocam o receptor, desafiando-o a reinterpretar o que parece ser simples. O filé mignon, como produto menos desafiador, estaria mais alinhado a uma produção musical de fácil digestão, algo que os Talking Heads evitam em favor do inesperado.

Por que os Talking Heads, e não os The B-52s, se relacionam com a picanha? A resposta está na profundidade conceitual. Embora ambas as bandas sejam contemporâneas e experimentais, os Talking Heads construíram uma identidade marcada pela busca do inusitado e pela crítica às normas culturais. Músicas como Once in a Lifetime ou Psycho Killer exploram temas existenciais e sociais com uma abordagem que desestrutura e reconstrói os paradigmas do que é música popular. Esse processo reflete o princípio popperiano de falsificabilidade: a música da banda é uma constante tentativa de refutar o convencional e propor algo novo.

Já os The B-52s, embora inovadores, têm uma abordagem mais leve e festiva, menos propensa a provocar reflexões profundas. A banda evoca o filé mignon: divertida, acessível e facilmente apreciada, mas com menos camadas a serem desvendadas. Os Talking Heads, como a picanha, são complexos e polarizadores, exigindo do público uma interação mais crítica e reflexiva.

Sendo assim, sob a perspectiva de Karl Popper, a picanha e os Talking Heads são hipóteses ricas em possibilidades, que sobrevivem ao teste do tempo e da crítica. A picanha, com sua complexidade gustativa, e os Talking Heads, com seu experimentalismo musical, simbolizam a essência da filosofia popperiana: a evolução através do questionamento constante. Já o filé mignon e os The B-52s, embora valorizados, representam escolhas menos desafiadoras, mais próximas do que Popper consideraria hipóteses que escapam à falsificação, carecendo da profundidade necessária para gerar verdadeira transformação.

 

O texto gerou reação imediata da consagrada pensadora Eleanor V. Marbury (Doutora em Teoria Crítica e Estudos Interdisciplinares pela Columbia University, com pós-doutorado em Estética e Filosofia da História pela Freie Universität Berlin), que prontamente enviou para a Dialectical Perspectives Review uma resposta certeira, nos seguintes termos:


Echoes and Flavors: A Benjaminian Dialectic Between Picanha an Talking Heads

  • Eleanor V Marbury


No artigo intitulado "Steak and Sound: Picanha and Talking Heads Through Popperian Eyes", publicado na Cultural Horizons Quarterly, Jonathan P. Rawlings propõe uma análise curiosa e audaciosa, mas limitada, das interseções culturais entre a gastronomia e a música pop. Embora sua tentativa de conectar a picanha e os Talking Heads ao pensamento de Karl Popper seja engenhosa, ela ignora aspectos cruciais da historicidade e da materialidade cultural que sustentam tais fenômenos. Em resposta, este ensaio revisita a abordagem de Rawlings sob a perspectiva de Walter Benjamin, argumentando que uma análise mais profunda exige contemplar as dinâmicas de reprodutibilidade, aura e luta histórica que ele negligencia. Aqui, a picanha e os Talking Heads são recuperados não apenas como símbolos de sabor e inovação, mas como produtos de um contexto cultural carregado de contradições.

A partir do pensamento de Walter Benjamin, especialmente os conceitos apresentados em obras como A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica e Teses Sobre o Conceito de História, podemos criticar a abordagem proposta no artigo, avaliando tanto suas qualidades quanto suas limitações. A crítica benjaminiana se concentrará no tratamento das relações entre cultura, autenticidade, historicidade e repetição, levando em conta os elementos centrais de seu artigo.

O artigo apresenta a picanha como um símbolo de complexidade sensorial e autenticidade cultural, em oposição ao filé mignon, que seria uma escolha segura e sem camadas interpretativas. Benjamin, no entanto, nos alertaria contra o fetiche da autenticidade. No ensaio A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica (1936), ele argumenta que a "aura" de um objeto — sua singularidade e história — pode ser desconstruída em uma era marcada pela reprodução em massa.

A picanha, apresentada como portadora de "desafios sensoriais", poderia ser analisada como um objeto que foi incorporado ao imaginário coletivo como autêntico e inigualável. Contudo, a sua valorização está profundamente enraizada em processos históricos e culturais que moldaram sua percepção, em um contexto de consumo de massa. Benjamin argumentaria que a aura da picanha é, na verdade, resultado de uma construção cultural que, assim como o filé mignon, está sujeita a uma "politização do gosto". O debate Popperiano não incorpora esse aspecto histórico de mediação cultural.

Ao tratar os Talking Heads como uma banda experimental e desafiadora em oposição aos The B-52s, o artigo faz um esforço para destacar a profundidade da primeira. Benjamin, contudo, insistiria na necessidade de examinar como a música, enquanto forma de arte reprodutível, perde sua "aura" original, mas ganha relevância política e social em seu processo de circulação.

Por exemplo, a canção Once in a Lifetime, mencionada implicitamente no artigo, tornou-se parte de um repertório cultural massificado. Embora sua complexidade inicial fosse marcada pela fusão de estilos, ela agora é acessível e reinterpretada por massas de ouvintes em contextos muito além daqueles imaginados pela banda. Benjamin sugeriria que o valor da música não reside mais na originalidade artística, mas em sua capacidade de provocar novos significados históricos e culturais ao ser reproduzida e apropriada. Nesse sentido, o artigo ignora a dialética entre arte e reprodutibilidade na música dos Talking Heads, perdendo uma dimensão crítica importante.

A crítica principal de Benjamin estaria no uso acrítico do paradigma popperiano. O conceito de falsificabilidade, enquanto ferramenta para avaliar a evolução de hipóteses, negligencia a historicidade das formas culturais, um ponto central para Benjamin. No texto Teses Sobre o Conceito de História (1940), ele argumenta que a história não é um processo linear de progresso, mas um campo de lutas onde o passado é reinterpretado continuamente.

O artigo trata a picanha e os Talking Heads como "hipóteses" testadas e aprovadas ao longo do tempo, mas falha em considerar que ambos os fenômenos são produtos de um contexto histórico específico. Para Benjamin, não é suficiente entender por que algo "sobrevive"; é crucial perguntar quem se beneficia dessa sobrevivência e como essa narrativa reflete ou obscurece as contradições sociais e culturais do presente. Nesse caso, o artigo evita uma análise mais crítica das condições que levam à valorização da picanha e dos Talking Heads, ignorando as forças econômicas e culturais que moldaram suas trajetórias.

Sob a lente de Walter Benjamin, o artigo apresenta um esforço interessante para relacionar cultura gastronômica e musical com a filosofia popperiana, mas peca ao ignorar a historicidade e a politização dos objetos culturais. A análise seria enriquecida ao incorporar as ideias de Benjamin sobre aura, reprodutibilidade e luta histórica, destacando as contradições que sustentam o valor cultural da picanha e dos Talking Heads. A picanha, afinal, não é apenas carne, e os Talking Heads não são apenas música; ambos são reflexos e sínteses de disputas históricas.

Bibliografia:

  • Benjamin, W. The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction. In: Illuminations. Edited by Hannah Arendt, translated by Harry Zohn. New York: Schocken Books, 1968.

  • Benjamin, W. Theses on the Philosophy of History. In: Illuminations. Edited by Hannah Arendt, translated by Harry Zohn. New York: Schocken Books, 1968.

  • Buck-Morss, S. Dialectics of Seeing: Walter Benjamin and the Arcades Project. Cambridge, MA: MIT Press, 1989.

 

Irresignado com os comentários de Eleanor V. Marbury, Rawlings escreveu uma tréplica para o texto de Marbury, o qual foi publicado na edição de junho/2024 da Critical Nexus: Journal of Cultural and Philosophical Debates:


Breaking the Aura: A Popperian Rebuttal to Benjaminian Abstractions on Picanha and Talking Heads

  • Jonathan P. Rawlings

Eleanor V. Marbury, em seu artigo "Echoes and Flavors: A Benjaminian Dialectic Between Picanha and Talking Heads", publicado na Dialectical Perspectives Review, tentou invalidar meu ensaio original com um ataque que, embora ambicioso, carece de rigor teórico e profundidade analítica. Sua tentativa de invocar Walter Benjamin como um corretivo às minhas reflexões popperianas é um exemplo clássico de como a superinterpretação acadêmica pode transformar símbolos culturais ricos em abstrações vazias.

Marbury cita Walter Benjamin para argumentar que a aura e a historicidade da picanha e dos Talking Heads foram negligenciadas em minha análise. No entanto, sua interpretação de Benjamin é seletiva e simplista. Como Terry Eagleton observa em After Theory (2003), "a obsessão pós-moderna pela significação ignora que os objetos culturais têm valor não apenas por suas associações, mas por sua capacidade de intervir em nossas vidas concretas" (p. 45). Ao tratar a picanha como um fetiche cultural e os Talking Heads como meras figuras reprodutíveis, Marbury desconsidera como esses elementos são experimentados por pessoas reais em contextos cotidianos.

Para reverter essa perspectiva elitista, invoco Toni Morrison, que em Playing in the Dark: Whiteness and the Literary Imagination (1992), argumenta que os símbolos culturais não são abstrações estáticas, mas estruturas dinâmicas moldadas por experiências vividas. A picanha não é apenas "uma construção cultural", como Marbury sugere; ela é um ponto de convergência onde a identidade, o prazer e a memória se encontram. De forma semelhante, os Talking Heads desafiaram convenções musicais precisamente porque eram capazes de ressoar com audiências em diferentes camadas sociais.

E aqui entra Taylor Swift, cujo impacto cultural ilustra a necessidade de abordar símbolos contemporâneos com sensibilidade às nuances emocionais. Em sua própria leitura do significado cultural, Swift afirma: "A arte só importa se toca alguém diretamente" (Miss Americana, 2020). A análise de Marbury carece dessa sensibilidade; sua obsessão pela "historicidade crítica" esconde a experiência emocional que conecta os ouvintes aos Talking Heads e aos sabores da picanha.

O problema mais profundo na abordagem de Marbury é sua tentativa de subordinar tudo a uma visão dogmática de Benjamin. Como Eagleton também observa, "a teoria não deve sufocar o objeto de estudo com seus próprios pressupostos; ela deve iluminá-lo" (Literary Theory: An Introduction, 1983, p. 87). Em vez de iluminar, Marbury obscurece as relações entre gastronomia e música com uma interpretação monolítica e fora de contexto. Sua leitura de Benjamin não reconhece que o conceito de aura foi profundamente transformado por Benjamin ao longo de sua obra, como evidenciado nas contradições entre Teses Sobre o Conceito de História e A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica.

Ao insistir em uma dicotomia entre "historicidade" e "falsificabilidade", Marbury ignora que minha abordagem popperiana não rejeita a historicidade, mas sim a contextualiza como parte de um processo contínuo de adaptação crítica. A picanha e os Talking Heads não são apenas objetos passivos de análise histórica; são agentes vivos no campo da cultura, sujeitos à experimentação e reinvenção constante. Essa visão é consistente com a perspectiva de Eagleton e com a noção de experiência estética de Morrison, que enfatiza a interação dinâmica entre o objeto cultural e o sujeito.

Marbury errou ao sacrificar a experiência concreta no altar da abstração crítica. Minha proposta original, ancorada em Popper, continua sendo uma abordagem mais acessível e consistente, precisamente porque reconhece o valor transformador dos objetos culturais na vida cotidiana. A picanha e os Talking Heads não precisam de uma aura para provar sua relevância; eles continuam a desafiar, provocar e inspirar — como todos os grandes símbolos culturais.

Bibliografia:

  1. Eagleton, Terry. After Theory. New York: Basic Books, 2003.

  2. Eagleton, Terry. Literary Theory: An Introduction. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1983.

  3. Morrison, Toni. Playing in the Dark: Whiteness and the Literary Imagination. New York: Vintage, 1992.

  4. Swift, Taylor. Miss Americana. Documentary, directed by Lana Wilson. Netflix, 2020.


 

Em 4 de outubro de 2024, a edição n. 47 da revista "Journal of Critical Cultural Disputes", de Boston, Massachusetts, publicou esta nova investida de Eleanor V. Marbury:


Eleanor V. Marbury's Rejoinder: The Culinary-Musical Delusion of Rawlings – A Response to Non-Thinking

  • Eleanor V. Marbury

Jonathan P. Rawlings, em sua resposta pseudoacadêmica, conseguiu uma façanha rara: embalar preconceitos intelectuais e arrogância disfarçada em jargões popperianos. Seu texto, publicado na Critical Nexus, é uma tentativa desajeitada de transformar uma reflexão sobre cultura em um amontoado de ideias desconexas que, além de superficiais, revelam um desprezo gritante pela complexidade cultural que ele finge analisar. Rawlings, permita-me dizer: sua tréplica é, para usar um termo técnico, um espetáculo de não-pensamento.

Comecemos pelo óbvio. Quando Rawlings fala da picanha e dos Talking Heads como "agentes vivos no campo da cultura", ele soa como um vendedor de mercado tentando convencer alguém de que um corte de carne pode se inscrever na "história crítica da modernidade". Sua retórica é um exemplo do que Umberto Eco denunciou em Apocalípticos e Integrados: a transformação de qualquer objeto cultural em mercadoria reciclável, destituída de profundidade crítica. Como Eco sugere, o problema não é a popularidade, mas a simplificação abusiva dos significados.

Rawlings atribui à picanha e aos Talking Heads uma "experiência emocional" tão simplificada quanto um comercial de fast-food. Não há nuances, apenas uma reprodução acrítica do consumismo cultural que ele, ironicamente, parece criticar. Jonathan, você não está celebrando a cultura; está aplanando sua complexidade para vendê-la como um conceito barato.

É impossível ignorar o fetiche de Rawlings pelo "método científico" de Karl Popper. Ao aplicar a falsificabilidade como ferramenta universal, ele ignora o que Theodor Adorno descreveu como a "dialética negativa": a impossibilidade de reduzir a cultura a fórmulas simples e verificáveis. Em Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer alertam que o pensamento instrumental, como o que Rawlings defende, destrói a capacidade de compreender a verdadeira complexidade das relações humanas.

Rawlings, ao tentar enfiar a picanha e os Talking Heads em sua pequena caixa popperiana, comete o que Adorno chamaria de "barbárie intelectual": a tentativa de subordinar o indomável à lógica simplista do progresso. Seu Popper é a desculpa conveniente de alguém que não tem coragem de enfrentar as contradições reais do objeto cultural.

Marcelo Ridenti, em Em Busca do Povo Brasileiro, analisa como as elites intelectuais muitas vezes tratam a cultura popular com um misto de condescendência e apropriação. Rawlings se encaixa perfeitamente nesse padrão. Ao citar Taylor Swift como referência cultural ao lado de Popper e Toni Morrison, ele revela sua total incapacidade de lidar com a especificidade histórica e cultural dos objetos que discute. A picanha, Jonathan, não é um mero "símbolo cultural"; ela é um produto de disputas sociais, de identidades regionais e de conflitos econômicos. Reduzi-la a um "agente vivo" sem contexto histórico é perpetuar a visão colonialista que Ridenti denuncia.

E quanto aos Talking Heads? Sua análise ignora como o experimentalismo da banda está profundamente enraizado em tensões sociais dos anos 1980. David Byrne e companhia não "testaram hipóteses"; eles articularam respostas às condições políticas e culturais de sua época. Mas você, Jonathan, prefere fingir que tudo isso pode ser reduzido a um jogo intelectual sem implicações reais.

Ao longo de sua tréplica, Rawlings exibe um desprezo sistemático por qualquer análise que não se alinhe com sua visão reducionista. Ele acusa minha crítica de "elitista" enquanto defende uma posição claramente condescendente, que trata a cultura popular como um quebra-cabeça para sua própria satisfação. Jonathan, você não é um crítico cultural; é um mercador de banalidades intelectuais, um vendedor de pacotes teóricos que ignoram a própria essência dos objetos que discute.

Como diria Umberto Eco, sua abordagem não é análise, mas "masturbação teórica". E, para ser clara, eu não uso essa expressão levianamente. Sua tentativa de "recontextualizar" minha crítica é o equivalente acadêmico de um espetáculo circense: chamativo, mas vazio.

Jonathan P. Rawlings precisa desesperadamente de uma lição sobre como a cultura funciona no mundo real. Ela não é uma série de "hipóteses" a serem testadas, mas um campo de disputa, contradição e significado. Invocar Popper para entender a picanha e os Talking Heads é como usar um martelo para tocar piano: desastroso, para dizer o mínimo.

Enquanto Rawlings continuar a ignorar a complexidade cultural em favor de sua visão estreita, ele não fará parte de um debate significativo. Será apenas o eco vazio de um pensamento mal formulado.

Fontes Referenciadas:

  1. Eco, Umberto. Apocalypse Postponed. Bloomington: Indiana University Press, 1994.

  2. Adorno, Theodor W., e Horkheimer, Max. Dialectic of Enlightenment. Stanford: Stanford University Press, 2002.

  3. Ridenti, Marcelo. Em Busca do Povo Brasileiro: Artistas da Revolução, do CPC à Era da TV. São Paulo: Editora Unesp, 2000.



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