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  • Guilherme Purvin

Música popular e literatura uruguaia

Atualizado: 11 de set. de 2023

- Guilherme Purvin -


(Atenção: Isto não é um artigo, é um roteiro pessoal de audição e leitura)


O Uruguai tem hoje (2023) uma população de 3,5 milhões de pessoas, 51,7% mulheres e 48,3% homens (countymeters.info/pt/Uruguay), mais de 1,3 milhões delas vivendo em sua capital, Montevidéu.


Além da capital, os pontos turísticos mais famosos são Punta del Este e Colônia de Sacramento. A primeira vez que visitei nosso vizinho ao sul, pedi a um senhor uruguaio que me indicasse os nomes de bons cantores e compositores uruguaios. Para a minha sorte, ele entendia de música e me passou o nome de alguns músicos que ouço até hoje:


Alfredo Zitarrosa - Neste vídeo de uma apresentação na tv espanhola em 10 de maio de 1977, à época de seu exílio político, Zitarrosa interpreta três de suas mais famosas canções: El Violin de Becho, Pal que se va y Doña Soledad. A importância cultural de Zitarrosa para a música popular latino-americana é equivalente à dos compositores chilenos Violeta Parra e Victor Jara ou do argentino Atahualpa Yupanki.


Jaime Roos - Los Olimpicos é uma das mais brilhantes e bem humoradas canções populares sobre a situação dos trabalhadores imigrantes nos países ricos. O título da canção é alusivo ao orgulho dos uruguaios pela conquista das copas do mundo de futebol de 1930 e 1950:


Se nos viene fin de año festejamos navidad Los ensayos se complican preparando Carnaval

Ya está cerca fin de año en Holanda, en Canadá Los muchachos congelados recordando Carnaval

Uruguayos, Uruguayos, dónde fueron a parar Por los barrios más remotos de Colombes o Amsterdam

Antes éramos campeones / Les íbamos a ganar Hoy somos los sinvergüenzas / Que caen a picotear Trabajador inmigrante / Es la nueva profesión Al que agarran sin papeles / Lo fletan en un avión

Uruguayos…

Ayer recibí una carta / Directa de Nueva York De mi amigo el Horacio / Trabaja de soldador Ahora tiene colachata / Alfombra y calefacción Parece cosa de locos / Le va cada vez peor

Extraña la gente nuestra / Que te hable sin despreciar Extraña el aire del puerto / Cuando anuncia el temporal Y sin embargo recuerda / Las cosas por la mitad Se olvida las que pasaba / Antes de irse para allá

Uruguayos…

Volver no tiene sentido / Tampoco vivir allí El que se fue no es tan vivo / El que se fue no es tan gil Por eso si alguien se borra / Qué le podemos decir No te olvides de nosotros / Y que seas muy feliz

Uruguayos…

A paixão pelo futebol também está retratada nesta outra famosa canção de Jaime Roos: Cuando juega Uruguay.



Daniel Viglietti - Mais um gigante da música popular uruguaia, cuja obra pode ser conhecida neste vídeo do Festival El Mapa de Todos, no Teatro São Pedro de Porto Alegre (RS), em 12 de novembro de 2014.




Malena Muyalla - Em 2006, Malena lançou o belíssimo álbum "Viajera", que pode ser ouvido na íntegra aqui. Também há uma gravação ao vivo lançada em CD, com sua apresentação no Teatro Solís.

Nesta interpretação da canção Viajera, de 2019, há uma surpresa para os brasileiros ao final - uma citação de "Mas que nada", de Jorge Ben:


Temas pendientes (2017) - Malena Muyala:

 

Mais recentemente conheci outros excelentes cantores / compositores uruguaios. Eis alguns deles:


Ana Prada - Além de ótima cantora, Ana Prada há mais de 15 anos vem também compondo suas próprias canções, de que é exemplo Da buena sorte (2010)


 

Jorge Drexler é provavelmente o cantor-compositor uruguaio mais conhecido (se não for o único) aqui no Brasil. Nunca fui a uma apresentação dele, pois aqui no Brasil os shows dele custam dez vezes mais do que lá no Uruguai. Destaco aqui duas composições famosas dele: Al otro lado del rio e El pianista del gueto de Varsovia.

 

O Uruguai também tem rock. Do grupo "Once Tiros", destaco a canção Momento extraño , do álbum do mesmo nome, lançado em 2007:

 

Literatura uruguaia


Na Literatura, eu só conhecia "As veias abertas da América Latina", de Eduardo Galeano, e "A trégua", de Mario Benedetti. Pedi a uma mal-humorada atendente de certa livraria/sebo localizada numa rua em meio à tradicional e gigantesca feira Tristán Narvaja, que me indicasse um livro de história da Literatura Uruguaia. Ela respondeu: não existe nenhum livro com esse assunto. Não se estuda literatura uruguaia nas escolas daquele país - os estudantes leem literatura de expressão espanhola, independentemente do país onde nasceram os escritores. Não sei se a informação é verdadeira. Este artigo está em fase de elaboração e serve apenas como um roteiro personalíssimo. Não pretendo suprir a omissão bibliográfica apontada pela antipática balconista da livraria da Calle Tristán Narvaja, mas apenas esboçar uma coerência mínima em meus projetos de leitura e audição de música.


Cristina Peri Rossi

- La Insumisa -

Nascida em Montevidéu no ano de 1941, a autora é professora de Literatura, tradutora e jornalista, considerada uma das escritoras mais importantes de fala castelhana. La Insumisa é uma novela autobiográfica em que Cristina narra seus primeiros ano de vida no Uruguai junto aos seus pais, avós, irmã e um tio. A delicadeza com que escreve sobre seu amor à mãe nos prende à leitura desde a primeira página:

La primera vez que me declaré a mi madre, tenía tres años (según los biólogos, los primeros años de nuestra vida son los más inteligentes. El resto es cultura, información, adiestramiento). Yo tenía propósitos serios: pretendía casarme con ella. El matrimonio de mi madre (del cual fui un fruto temprano) había sido un fracaso, y ella estaba triste y angustiada. Los animales domésticos comprenden instintivamente las emociones y los sentimientos de los seres y procuran acompañarlos, consolarlos: yo era un animal doméstico de tres años.

 

Eduardo Galeano

- As veias abertas da América Latina

(... a comentar...)


Felisberto Hernández

- Nadie encendía las lámparas

(... a comentar...)


Fernanda Trías

- La Azotea

(... a comentar...)


Fernando Villalba

- El pañuelo del mago

(... a comentar...)


Horacio Quiroga

- Cuentos de amor, de locura y de muerte

(... a comentar...)


Idea Vilariño

- Poesía completa

(... a comentar...)



Juan Carlos Onetti: é um dos únicos autores uruguaios lembrados por Otto Maria Carpeaux, em sua "História da Literatura Ocidental": "Nem todos os romancistas do boom hispano-americano obtiveram o sucesso merecido. Ficou eclipsado pelos outros o uruguaio Juan Carlos Onetti, que é, no entanto, um grande escritor, de pessimismo enraizado, representante de um Neonaturalismo em que o "Naturalismo" é mais forte que o "neo". Seu mundo é povoado por monstros; mas é nosso mundo" (Vol.10 - As tendências contemporâneas por Carpeaux. Rio de Janeiro : LeYa, 2012, p. 142). A Folha de S.Paulo reservou o 25º e último volume da "Coleção Folha Literatura Ibero-Americana" aos "47 contos de Juan Carlos Onetti", traduzidos por Josely Vianna Baptista.


Juana de Ibarbourou

Essa poeta uruguaia (Melo, 1892 - Montevideo, 1979) começou a escrever seus poemas e ensaios com apenas 16 anos. Em 1919, editou pela primeira vez seus poemas "Las lenguas de diamante". Em 1920, lançou "El cántaro fresco" e, em 1922, "Raíz Salvaje". Conhecida como Juana de América, publicou em 1930 La rosa de los vientos, em 1934 Loares de Nuestra Señora e, em 1934, Estampas de la Bíblia. Escreveu também peças de teatro para crianças. Do livro Las lenguas de diamante, transcrevo um poema que Miguel de Unamuno considerou estupendo:


La hora

Tómame ahora que aún es temprano Y que llevo dalias nuevas en la mano.

Tómame ahora que aún es sombría Esta taciturna cabellera mía.


Ahora que tengo la carne olorosa Y los ojos limpios y la piel de rosa.

Ahora que calza mi planta ligera La sandalia viva de la primavera.


Ahora que en mis labios repica la risa Como una campana sacudida a prisa.

Después... ¡ah, yo sé Que ya nada de eso más tarde tendré!


Que entonces inútil será tu deseo, Como ofrenda puesta sobre un mausoleo.

¡Tómame ahora que aún es temprano Y que tengo rica de nardos la mano!


Hoy, y no más tarde. antes que anochezca Y se vuelva mustia la corola fresca.

Hoy, y no mañana. ¡oh amante! ¿no ves Que la enredadera crecerá ciprés?


Daniel Viglietti musicou esse poema, que pode ser ouvido na voz de Isabel Parra:


 

Leo Maslíah

Aliás, acabei descobrindo que esse autor, Leo Maslíah, é um verdadeiro Groucho Marx uruguaio e, além de escrever contos hilariantes, também é músico e ator humorístico. Cheguei ao nome de Leo Maslíah através do Milton Nascimento, que canta uma das mais belas canções latino-americanas, a conhecida Biromes y Servilletas: En Montevideo hay poetas, poetas, poetas... Seguem aqui alguns links com Leo Maslíah e suas composições e interpretações, a começar pela linda interpretação de Milton Nascimento - Biromes y Servilletas



E aqui, o humor absurdo de Leo Maslíah:


Zanguanguo - Essa canção fez muito sucesso no Uruguai. Lembra vagamente o grupo francês Les Negresses Vertes. "Zanguanguo" é uma gíria uruguaia que significa bobalhão, desajeitado.


Corriente alternada - Preste atenção na letra desta canção e, para melhor proveito da poesia, pesquise na internet o funcionamento da corrente elétrica alternada, tentando relacionar letra e título.



Livros de Leo Maslíah na estante:


- Carta a un escritor latinoamericano y otros insultos

... a comentar...


- Cuentos impensados

... a comentar...

 

Mario Benedetti

- A trégua (La tregua - Traduzido para o português por Joana Angélica D'Avila Melo - MEDIAfashion, 2012 : São Paulo). O romance é pequeno, mas de um lirismo pungente, principalmente para quem já vivencia a mesma realidade do protagonista. O livro vale um diálogo com "O amanuense Belmiro", de Cyro dos Anjos, outra obra-prima. Quando li esse livro, tornei-me imediatamente fã ardoroso de Mario Benedetti.

- Montevideanos (Traduzido por Ercílio Tranjan e Nilce Tranjan - Editora Madalena, 2016 : São Paulo) - Preguntas al azar - Poesía (1993, Espasa Calpe : Buenos Aires-AR)

- Primavera num espelho partido (Primavera con una esquina rota) - Traduzido para o português por Eliana Aguiar - 2009, Objetiva : São Paulo)

- Subdersarrollo y letras de osadia (Alianza Editorial, 2002 : Madrid-ES)

 

Mario Levrero

- Nick Carter se divierte mientras el lector es asesinado y yo agonizo y otras novelas (Random House Mondadori, 2019 : Barcelona-ES)

(... a comentar...) - Comparar com os romances do argentino de Rosário.


Marosa di Giorgio (Salto, 1932 - Montevideo, 2004), foi poeta e prosadora, considerada uma das maiores vozes da literatura latinoamericana da segunda metade do século XX. Sua extensa obra poética foi compilada no volume Los papeles salvages. Sobre a autora, disse César Aira: "Su estilo es muy peculiar; se lo reconoce a la lectura de una línea cualquiera, y no se parece a nadie."

O livro Rosa Mística é um dos três volumes de relatos eróticos, tendo sido publicado em 2003.


Mauricio Rosencof

- Las cartas que no llegaron

(... a comentar...)


Certamente falta citar muitos escritores uruguaios. A relação abaixo é apenas dos volumes que selecionei em minha biblioteca. Consultando o livro "A cidade das letras", de Ángel Rama, por exemplo, encontrei estes nomes: José Pedro Bellan (1889-1930), autor da peça "Deus te salve!); Enrique Casaravilla Lemos (1889-1967), poeta da chamada Generación del 20; Ángel Falco (1885-1971), poeta, publicou Cantos rojos, entre outras coletâneas; Pedro Figari (1861-1938), pintor e escritor, precursor do modernismo; Julio Herrera y Reissig (1875-1910), poeta e dramaturgo oriundo do romantismo e consagrado no modernismo; Lucio V. López (1874-1894), escritor uruguaio que atuou na Revolução do Parque em 1890; Carlos Reyles (1868-1938), romancista que enveredou pelo realismo, sagrando-se como; modernista; José Enrique Rodó (1871-1917), ensaísta e político; Carlos Sabat Ercasty (1887-1982), poeta lírico, vencedor de diversos prêmios nacionais Florêncio Sánchez (1875-1910), dramaturgo, considerado um dos pioneiros do teatro na região do Rio da Prata.




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